Diante dessa realidade incontestável, nos perguntamos: por que algumas pessoas esclarecidas, alguns historiadores, alguns sociólogos, alguns políticos, continuam insistindo na velha e surrada cantilena que tenta negar a importância da Revolução Farroupilha como marco fundador da identidade gauchesca? Por que negam o valor sócio-cultural do tradicionalismo gaúcho? Por que insistem em desconhecer que a sociedade é quem define os seus destinos, suas escolhas, suas opções culturais? Por que valorizam experiências e feitos de outras sociedades (gregos, franceses, ingleses, russos, norte-americanos) e menosprezam os feitos históricos da sociedade sul-rio-grandense?
A cada setembro aparecem historiadores, jornalistas, sociólogos e não sei o que mais para ocupar espaços na mídia com o objetivo de contrapor e desmerecer as iniciativas que a sociedade adota para expressar o seu orgulho de ser gaúcha, o seu sentimento de nativismo ou a sua gana de mostrar que faz parte de um processo histórico de construção de uma identidade que tem valores, que preza os costumes e os hábitos tradicionais e que não tem vergonha de usar suas pilchas nas ruas, praças e parques públicos.
Se o que fazem, esses homens e mulheres, é a apologia ao gauchismo, então está bem! Lamentável seria se fizessem apologia à sacanagem, à malandragem, à drogadição ou à negação dos valores familiares.
Talvez uma das razões que leva pessoas esclarecidas a contestar o Movimento Tradicionalista Gaúcho e suas formas de expressão seja o sucesso que aquela entidade alcançou no intuito de penetrar nas esferas sociais, públicas e privadas. Isso ocorreu com tal força que deixa desnorteados muitos analistas sociais.
Como explicar que num CTG convivem pacificamente filhos e pais, gente rica e gente pobre, doutores e analfabetos? Como explicar que no tradicionalismo não se escolhe o patrão pelo volume de dinheiro que tem e nem pelo acumulo de conhecimento acadêmico? Como explicar que um “guri” seja patrão e que os “tordilhos” cumprem suas tarefas subordinadas chamando-o de senhor? Como explicar que o patrão ou o capataz mal sabem ler e escrevem com dificuldade, enquanto o advogado e o engenheiro estão assando o churrasco ou controlando a portaria?
Com relação à Revolução Farroupilha, não nos cabe criticar o que foi feito. Cada episódio deve ser compreendido no seu tempo e nas suas circunstâncias. O que devemos fazer é aprender com a história: procurar repetir os acertos e evitar os erros.
A nós cabe tratar o mito do gaúcho com carinho, comemorar as nossas efemérides, valorizar os nossos heróis, manter o espírito do tradicionalismo, sem esmorecer, sem titubear e bombeando o horizonte luminoso para onde a sociedade gaúcha se dirige.
Aos que não são gaúchos, nossos respeitos. Eles não precisam pedir desculpas por nada, nem precisam tentar ser gaúchos para agradar a uns e outros. Cada um assume a cultura e o modo de vida que lhe agrada e que melhor lhe atenda as necessidades sociais e familiares. Cada um de nós é livre para ser o que quiser ser e não precisamos nos envergonhar dessa escolha.
Manoelito Carlos Savaris
Presidente da CBTG