O tradicionalismo gaúcho organizado surgiu, no meu entendimento, por ocasião do primeiro Congresso Tradicionalista realizado no ano de 1954, na cidade de Santa Maria. Naquele momento havia quase 40 Centros de Tradições Gaúchas, organizados à imagem e semelhança do 35 CTG (fundado em 24 de abril de 1948).
Foi naquele primeiro congresso que surgiram os primeiros documentos orientadores – especialmente a Tese “O sentido e o valor do tradicionalismo” de autoria de Luiz Carlos Barbosa Lessa – que traçaram os rumos e definiram os objetivos básicos do tradicionalismo. Até aquele momento, cada CTG agia e praticava a tradição sem uma orientação uniforme, mesmo que a maioria procurasse imitar o 35 CTG, exceto na questão da pesquisa.
A criação da Federação de CTGs foi uma decorrência natural da continuidade dos Congressos realizados anualmente. Já no ano de 1959 foi criada uma estrutura para coordenar as atividades, orientar o “fazer da tradição” e fiscalizar a prática tradicionalista. O Conselho Coordenador e as 12 Zonas Tradicionalistas criadas se constituíram no estágio preparatório para a criação do Movimento Tradicionalista Gaúcho, conhecido pela sigla MTG.
O MTG foi formalizado em 28 de outubro de 1966, já no 12º Congresso Tradicionalista Gaúcho. Essa Federação nasceu com dois grandes objetivos: agir atendendo aos interesses dos associados (CTGs) e funcionar como o guardião dos princípios culturais e éticos que caracterizam o gauchismo. Ou seja, com a função coordenadora e fiscalizadora.
O tradicionalismo cresceu muito rapidamente, no Rio Grande do Sul e fora dele. O primeiro CTG fundado fora das fronteiras foi o CTG Planalto Lageano, criado no dia 12 de dezembro de 1959. Em 1973 foi criado o Movimento Tradicionalista Catarinense, transformado em MTG no dia 29 de julho de 1985. No dia 5 de dezembro de 1975 foi criado o MTG do Paraná. Depois foram criadas as outras 7 federações.
Perseguindo a idéia de unidade e homogeneidade do tradicionalismo gaúcho – independentemente de onde ele se estabelecer – foi criada a Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG), no dia 24 de maio de 1987 que conta atualmente com oito federações efetivas e duas federações provisórias afilhadas.
O artigo 3º do Estatuto da CBTG define as suas finalidades. O inciso I daquele artigo diz o seguinte: “Representar, em todo o território nacional e no exterior, a cultura gaúcha, na condição de entidade maior do movimento tradicionalista gaúcho brasileiro”. Portanto, a CBTG foi constituída para ser a entidade maior do tradicionalismo gaúcho organizado.
Podemos discutir e ponderar a respeito dessa condição “de entidade maior” da CBTG, mas não podemos desconhecer ou ignorar essa questão. Também é fundamental que se defina bem o que significa esse patamar, para que não tenhamos dificuldades nas relações corriqueiras do tradicionalismo organizado.
No meu modesto entendimento, a CBTG não deve se preocupar com as questões internas de cada federação filiada, mas não pode silenciar diante de situações em que as questões fundamentais estejam sendo agredidas. Entre estas questões estão: os aspectos culturais típicos gauchescos, as tradições gauchescas (em todas as suas manifestações) e a finalidade de existência – condição de filiação – de cada entidade singular (CTG, Piquete, DTG, etc.).
Não cabe à CBTG disputar ou ocupar espaço que cabe aos MTGs, no entanto, lhe cabe agir (em parceria) no sentido de cumprir a sua finalidade de tornar o tradicionalismo gaúcho homogêneo, o que não significa impedir que cada federação preserve suas características específicas e adote modelos de gestão e realização de eventos que melhor atenda aos seus filiados.
É com este espírito que a nova Diretoria da CBTG pautará as suas ações. A transparência e a intransigência no cumprimento dos Estatutos e Regulamentos serão as duas colunas mestras da administração 2011-2013. Aliás, este é o compromisso assumido por todos os dirigentes do tradicionalismo gaúcho organizado, desde o Patrão de CTG, até o Presidente da CBTG.
Porto Alegre, janeiro de 2012.
Manoelito Carlos Savaris
Presidente da CBTG