No 1º aparte falamos do conceito de sustentabilidade e dos e ”esteios” do galpão do tradicionalismo, que a nosso ver, representa o movimento tradicionalista gaúcho. Neste 2º aparte vamos falar das “estruturas” e “telhas” do galpão (ver figura), bem como tentar responder as duas questões colocadas no 1º aparte.
As “estruturas” do galpão, encravadas nos ”esteios”, dão o embasamento e suporte necessários à realização das “atividades”. Podemos dizer que podem ser simples ou complexas, acho que mais complexas do que simples, pois atuam em cenários diferentes e nem sempre são bem aceitas, como deveria ser e era de se esperar. Poderíamos compará-las a placas de sinalização de uma estrada, com as indicações dos caminhos e dos perigos e riscos de não obedecê-las. Estas estruturas também se sujeitam ao tempo, às mudanças, sofrem desgastes naturais, envergam, empenam, descascam, mas os defensores do tradicionalismo autêntico (sem genéricos), sempre a postos, não as deixam ceder e provém sua manutenção constante.
Por fim, para cobrir o galpão, as “atividades” completam o que podemos chamar de “sistema do tradicionalismo”. Em tese pode-se dizer que são os produtos gerados pelo tradicionalismo, pois na verdade são mais visíveis, tanto para os tradicionalistas como aos simpatizantes do movimento, governos, imprensa, mídia, e demais pessoas e entidades não tradicionalistas. Se de um lado tem certo grau de liberdade, por estarem em cima do galpão, de outro, pela exposição (sol, chuva, frio, calor, ventos, etc.), sofrem maiores desgastes (críticas, reclamações, restrições, discórdias, recursos, até brigas).
Terminado o “galpão”, sem a pretensão de que esteja totalmente pronto, porque necessária sua manutenção preventiva, contínua e permanente (principalmente dos “esteios” e “estruturas”), vamos às respostas das questões inicialmente formuladas.
(i) O conceito de sustentabilidade pode ser aplicado ao tradicionalismo gaúcho? Pode e deve, por ter a preocupação não só com as necessidades do presente, mas por compromete-se com o atendimento das mesmas necessidades das gerações futuras. Em outras palavras este conceito está implícito/explícito, entre outros, na Carta de Princípios (Objetivo VII) e na Tese de Barbosa Lessa, “O sentido e o valor do tradicionalismo” (E graças à Tradição, essa cultura se transmite de uma geração a outra, capacitando sempre os novos indivíduos a uma pronta integração na vida em sociedade). Entretanto, conceitos e práticas nem sempre convergem na mesma direção. Se o conceito de sustentabilidade é bastante abrangente (e é), deve ser entendido se aplicado junto com as práticas, sob pena de se ter problemas (e tem) com os “esteios”, “estruturas” e “telhas”, que aos poucos vão envergando (ex.: concessões), se deteriorando (ex.: faltam os pilas pra manter), e pode levar o galpão abaixo.
(ii) O tradicionalismo gaúcho atende aos quatro requisitos básicos para um empreendimento humano ser sustentável e/ou ter sustentabilidade? (ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito). Poderíamos aqui tratar extensivamente de cada requisito e até do que seja empreendimento humano, em aderência ao tradicionalismo gaúcho, mas não é o caso. Quanto a ser um empreendimento humano e no tocante aos requisitos de socialmente justo e culturalmente aceito, nos parece que não restam dúvidas. Não significa dizer que está tudo bem e não há nada a fazer. Quanto a ecologicamente correto, muitas ações precisam ser desenvolvidas (assim como em toda a sociedade), principalmente no que diz respeito à conscientização e consciência ecológica. Essa preocupação deve ser constante e motivo de programas contínuos das entidades tradicionalistas, ou o “comprometimento com o atendimento das mesmas necessidades das gerações futuras” restará prejudicado. No tocante ao requisito economicamente viável, de pronto não é possível afirmar se o movimento o é como um todo. Não há dados e/ou informações que possam subsidiar qualquer afirmação. Pelo que se sabe, através de informações de companheiros, os pilas nas guaiacas da grande maioria das entidades andam escassos. Nesse sentido, há um longo trabalho a ser feito, entre outros, pesquisa do potencial econômico e financeiro do movimento a nível nacional (patrocinada pela CBTG) e providências quanto à organização das entidades tradicionalistas para captação de verbas públicas.
Gostaríamos de continuar, porém, a limitação de espaço e palavras, nos obriga a tecer as considerações finais:
(i) todo “galpão” está sujeito aos desgastes naturais pela ação do tempo (mudanças), por isso a vigilância sempre atenta e a manutenção contínua;
(ii) é primordial o planejamento para a execução e controle de ações que visem alcançar/melhorar os quatro requisitos da sustentabilidade;
(iii) por fim, a sustentabilidade do tradicionalismo gaúcho é determinante para a imagem e continuidade do movimento, para que continue sendo esse fenômeno antropológico, único no mundo na opinião de muitos estudiosos, que tem identidade própria e resiste bravamente a todos os modismos e influências multiculturais. Se antes a resistência era em defesa de princípios de justiça, igualdade, liberdade, humanidade, e o sangue foi derramado por direitos e respeito, hoje, sem guerras, sempre buscando o entendimento e a paz, é em defesa da cultura gaúcha. Não mudou nem nunca mudará nossa Bandeira, quem sabe o gaúcho vai mudando (se adaptando) apenas a forma de balançá-la aos quatro ventos.