Por Francisco Fighera
Uma palavra muito em voga
nos últimos anos e especialmente nos dias de hoje é a tal de “sustentabilidade”. O termo "sustentável"
vem do latim sustentare (sustentar; defender; favorecer, apoiar; conservar,
cuidar). Embora uma palavra com muitas primaveras no dicionário, ganhou o mundo
no relatório “Nosso Futuro Comum” (ou
Relatório Brundtland, publicado em
1987), da Primeira Ministra da Noruega, à epoca, Gro Harlem Brundtland, que
chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, indicada
que foi pela ONU, e que cunhou o conceito de desenvolvimento sustentável como sendo
"o atendimento das
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades".
Diz-se que são quatro os
requisitos básicos para um empreendimento humano ser sustentável e/ou ter
sustentabilidade: tem que ser
ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e
culturalmente aceito.
Mas o dito conceito foi além
e hoje se aplica a organizações (privadas, públicas, recreativas, culturais,
associativas com e sem fins econômicos, etc.), de todos os segmentos
(indústria, comércio, serviços, agricultura, pecuária, etc.) e também é muito
conhecido na política, artes, cultura, educação, medicina, veterinária, etc. É
só abrir os jornais e revistas e lá está ela estampada em mais de uma página,
com todas as letras. Nos noticiários, entrevistas, reportagens, seja no rádio
ou na televisão, está sempre presente. Nos discursos políticos, então, nem se
fala, é cansativamente repetida. No campo da gestão é a palavra da moda. Há muitas
publicações na internet sobre a sustentabilidade no cinema, no teatro e até na
música infantil (“Fórum Social Infantil trabalha sustentabilidade de maneira
lúdica”. Aconteceu no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2012). No “VIII Encontro da Juventude Tradicionalista
da CBTG”, realizado em Florianópolis em 2009, uma palestra sobre a "Sustentabilidade Econômica do
Movimento” chamou muito a atenção dos jovens.
Duas questões aqui se
colocam: (i) O conceito de sustentabilidade pode ser aplicado ao
tradicionalismo gaúcho? (ii) O
tradicionalismo gaúcho atende aos quatro requisitos básicos antes mencionados?
Não é muito simples
responder a essas questões, de pronto, numa primeira tenteada, e é preciso ter muito
cuidado com as reflexões e/ou afirmações, pois envolvem muitas variáveis. De
outro lado, não tem este chasque o objetivo de esgotar o assunto, por isso, 1º Aparte.
Vejo o tradicionalismo
gaúcho sob a forma de um “Galpão de CTG”,
como mostra a Figura, alicerçado
sobre “Esteios Fundamentais”, que
são a “FAMÍLIA” e “GRUPO LOCAL” (responsáveis pela
preservação e transmissão da herança social, como queria Barbosa Lessa), e a “TRADIÇÃO” (o amor e culto à terra, ao
pago... que vem da alma). Esses pressupostos podem ser considerados (são) a
essência da existência e continuidade do tradicionalismo. Pode-se dizer que são
como o sol, o ar, a água, a terra, o mar, elementos da natureza que nem se percebe
que existem, mas estão sempre ali, e se não mais existissem logo se notaria sua
falta e lhes seria atribuído o valor que realmente tem. Esses “pilares”, apesar de fortes e
resistentes como o cerne, podem sofrer e sofrem desgastes naturais. Não envelhecem
com o tempo, mas tem que se adaptar às mudanças, até porque essas são as únicas
coisas realmente estáveis.
Também os esteios (ou
pilares) tem que suportar outras “estruturas”
(Organizacional, Institucional, Moral, Cultural, Econômica e Financeira), como
os vigamentos, travessas, caibros, taboas, vergas, ripas, forro, tesouras, que
mantém esse Galpão de pé, para que bem ao alto tremule a Bandeira da Liberdade,
Igualdade, Humanidade.
Por outro lado, aquelas “estruturas” sustentam as “telhas” do Galpão, consideradas aqui
as diversas atividades a que se destina o tradicionalismo (Campeira, Artística,
Esportiva, Recreativa, Cultural, Social).
Das “estruturas” e das “telhas”
do Galpão vamos falar no 2º Aparte,
pois a prosa é um pouco mais longa. Então poderemos responder as duas questões
inicialmente colocadas, sabendo-se que uma coisa é certa: as respostas passam
necessariamente pelas pessoas.